4.9.14

A semiologia, o mosquito e a mini-saia do populista

Quando era estudante de sociologia, há umas décadas, também tive o meu fascínio pela semiologia.
Agora, que acabo de ser mordido por um mosquito numa esplanada de Ankara, relembro-me de um texto de Umberto Eco, velhinho, inserido numa antologia editada em português sob o título Psicologia do Vestir em que ele metaforizava a mini-saia. Dizia ele então, por palavras diferentes, que uma menina de mini-saia em Milão estava à moda, em Nápoles na vida e em certos bares de Hamburgo nem sequer seria menina.
O mosquito que me morde emAnkara também não me preocupa enquanto o que me morde em Dili me atemoriza e o que me morde em Luanda me aterroriza.
É que, ao contrário do que a semiologia propunha, o mosquito como símbolo da malária tem uma objectividade externa e não apenas intersubjectiva. Quer a mini-saia de Eco quer o meu mosquito são mesmo diferentes na substancia em locais distintos. E o de Luanda tem mesmo probabilidade objectiva de estar infectado superior ao de Dili e este ao de Ankara. Ou seja, os símbolos têm a sua materialidade. E, se os mosquitos não escolhem o que simbolizam porque sao determinados por algo que lhes é externo, os  seres humanos  escolhem os símbolos que adoptam, ainda que estejam condicionados nessa escolha. E, sobretudo, escolhem os símbolos que recusam adoptar. 

Quem será de facto, por exemplo, o ser humano que escolhe o populismo como mini-saia para morder os eleitores?

1 comentário:

Antonio disse...

A julgar pelas ditas celebridades, os alinhamentos dos telejornais e a República Romana, temos uma fixação permanente em mini-saias softcore, como quem flirt-a diariamente com mosquitos de Ancara, mas estamos em permanente risco de cair pelas hard-core que travestem a democracia durante as crises de frustração. Ataque de mosquitos de Phnom Phen ou Mae Sot, digamos, que transmitem aquela variante da malaria resistente à artemisina, descambam no nazismo.
Em comparação, os mosquitos em Díli transmitem pouco mais que uma gripe.